15 julho 2009

No pátio da tua casa, o lume ia escurecendo algumas febras, algumas barrigas, e também umas salsichas frescas, e iluminava à sua volta a noite que já estava de todo afirmada no imenso céu. Nós dois, à mesa, íamos rindo, mandávamos uns ditos mais espirituosos um contra o outro, e comíamos. A um dado momento, levantei-me e sentei-me a teu lado. Peguei nos teus talheres, preparei a tua comida e fui dando-ta à boca; também um bocado de sumo, quando tinhas sede; passava-te leve o guardanapo em torno dos lábios, quando era preciso; e as mais das vezes os meus dedos passavam, ligeiros, no teu pescoço, debaixo do cabelo, circundavam a orelha, pousavam no ombro. O ambiente ficou mais silencioso, depois de tu, a princípio, te teres rido da situação. Olhaste-me bem nos olhos, pegaste-me nas mãos e conduziste-me ao quarto. Sentaste-me na cama, para te ver enquanto tu, de pé, te despias. Os nossos olhos não se largavam. Quando apenas a roupa interior se mantinha sobre ti, levantei-me, pus as minhas mãos nos teus ombros, e beijámo-nos. Rapidamente me desfiz das minhas roupas, e ali mesmo, em pé, sentimo-nos. Eu apertava a tua cintura contra a minha, tu estonteavas-me o cabelo com as mãos, e a língua com a boca. Depois... houve magia.
É complexo e parece, ao mesmo tempo, impossível. Só te vejo como alguém a quem amo, mas de quem não consigo ser desinteressadamente amigo. A amizade contigo é sempre um meio para algo mais, na relação entre nós há, para mim, sempre a tendência para não ficar apenas como teu amigo: quero sempre, e de forma automática o faço, mais.
A luz vai morrendo devagar nos lençóis amarrotados e dispersos, que mal chegam para nos cobrir. No quarto, na sala, na cozinha - em cada lugar da casa há marcas da nossa passagem, quando perdidos um no outro dançávamos as nossas sensações na ternura ébria das pequenas carícias


Conheceram-se no sítio X. Ele ficou perdidamente apaixonado por ela. Houve alturas em que a amou, mesmo. Convidou-a para um festival de Verão, coisa que ela entendeu como um gesto bonito, simpático, nada mais. Mas ele falava a sério, e por isso lhe deu um bilhete para o dia que, julgava ela na brincadeira, haviam marcado. Pelas voltas da vida, ela teve de lhe dar um banho de água arrefecida com o gelo da realidade, e ele, para não querer sujeitá-la mais àquelas situações embaraçosas e desnecessárias, pediu-lhe a ela que não lhe falasse mais. Acontece que, mesmo que quisessem ir e o destino tivesse aprovado que eles estivessem de bem nesse dia, não poderiam ainda assim ir ao festival: porque havia trabalho a fazer no sítio X. Irónico, mas, apesar de mal se verem, estiveram sob o mesmo tecto nesse mesmo dia, apenas não onde queriam, mas onde realmente eram precisos.