25 julho 2006


Longe de tudo; sozinho, por minha conta, responsável pelos meus actos. Sem alguém que me vista com seus gestos, como tinha Sophia. Estou neste momento nesse mundo árido de um tempo real, esse mundo em que Vergílio Ferreira sentiria uma abafação de todo o espaço, uma pressão que lhe fazia carregar a cabeça de sangue. Esse mundo em que um aristocrata de Eça tomaria constantemente as decisões erradas, sempre esperando pela sua riqueza para o segurar, sempre mantendo a sua pose. Aqui, Campos estaria eufórico, absorvendo a multiplicidade de imagens que a Boavista, pela manhã, pode dar - ou estaria ansiando por um qualquer navio onde, encostado para trás na cadeira do convés, pudesse partir para o sossego. Reis estaria a ir-se embora também, em direcção ao campo, onde está Caeiro. O Ortónimo deprimiria entre tragos de vinho e sorvadas de ópio. Antero, perante a mendigagem que, pelos chãos, faz o triste espectáculo de serem como são e, sem qualquer estima para si próprios, no fim pedem o óbulo do espectáculo; Antero, ao vê-los, suspiraria por um Socialismo que, já o sabemos agora, nunca existirá. Quanto a mim, que não posso estar junto de todos eles, visto a roupa de estar nesta sociedade, escondendo dentro de mim o selvagem que quer um dia estar sozinho: fiz a minha escolha, Aristóteles, não sou deus, sou animal.