13 dezembro 2007

Não gosto de ser vulgar, igual aos outros, mas sou-o em imensas coisas. Isso pesa-me mais vezes do que eu gostaria. Se há coisa em que não me importe de ser igual aos outros é em ser fã incondicional de José Luis Peixoto, que conheci por intermédio da Ângela. Tivesse ele apenas guardado o Cemitério no seu lugar... Ainda não vi a Cal. Lido e relido dezenas de vezes, o seguinte texto da Criança em Ruínas nunca deixa de ser perturbador, mas, como o autor, um grande trabalho da língua portuguesa:

esse filho só de sangue que te escorre pelas pernas
sou eu. podíamos ter-lhe ensinado as palavras, mas
o seu nome é agora de sangue. podíamos ter-lhe
mostrado o céu, mas o seu olhar é agora de sangue.
podíamos ter fechado a sua mão pequena dentro da
nossa, mas a sua mão é agora de sangue. esse filho
só de sangue que te escorre pelas pernas e morre
sou eu, o meu sangue e a minha memória.


Depois de ler este texto, como alguns outros do Peixoto, é como se eu tivesse andado à tareia e estivesse a sentir as mazelas no corpo...

17 novembro 2007

O burro apanhou pancada
E, como é burro,
Serviu-lhe a lição de nada.
Não é como o homem: porque esse
Quando um enredo se tece
Aprende, fica lembrado...
Ou fica capacitado
Que é assim que lhe acontece.

Leitor – percorre o passado.
Quanto aprendeste na estrada?
Por mim, não aprendi nada,
Como o burro.

Fernando Pessoa (2-11-1933)

05 novembro 2007

Who's on first?




São grandes...

23 outubro 2007

Morde-me com o querer-me que tens nos olhos
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti-própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te...

Desfolha sonhos teus de dando-te variamente,
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me... E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção...

Possue-me-te, seja eu em ti meu spasmo e um rocio
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha...
Meu amor será o sair de mim do teu ocio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?



Fernando Pessoa (22-5-1913)

25 setembro 2007

do fundo do mar

"Não é o crime que nos arrasta ao desequilíbrio, mas o desequilíbrio que nos atira ao crime. Se não mantivermos a vigilância sob nós mesmos, cairemos na roda viva e iremos do desequilíbrio para as falhas, às faltas e para o crime. Do crime voltaremos para o desequilíbrio e aí rolaremos na roda das reencarnações, de que falava o Buda e nesse vai e vem maluco permaneceremos séculos e milénios, do qual dificilmente sairemos por nós mesmos, dependendo que uma força externa, fruto de um amor, de um ou de alguns Espíritos amigos que nos amem, nos salvará. Fora isso, sem a interferência dessas almas amorosas, e amantes, ficaremos nas mãos indiferentes do acaso que nos deixam abandonados, caindo infindavelmente no ABISMO de nós mesmos, de tal maneira que, aparentemente, parece uma queda eterna no sentido de atingir o ser que cai, a desintegração total por falta de energia"...

Aglon

20 setembro 2007





Breathe.mp3

17 setembro 2007

A TERRA VISTA DO ALÉM

Lá está a Terra com os seus contrastes destruidores; os ventos da iniquidade varrem-na de pólo a pólo, entre os brados angustiosos dos seres que se debatem na aflição e no morticínio. O que viste é o efeito das vibrações antagónicas, emitidas pela humanidade atormentada nas calamidades da guerra. Lá alimentam-se as almas com a substância amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do mais forte. Triste existência a dessas criaturas que se trucidam mutuamente para viver.
São comuns, ali, as chacinas, a fome, a epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro planeta de exílio e de sombra! Entretanto, no universo, poucos lugares abrigarão tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo necessita de golpes violentos e rudes.
Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

16 setembro 2007

... pequenos momentos, simples, como ouvir a Cyndi Lauper dizer "girls", ou alguém exclamar emocionado: "A mãe do Bambi morreu!"
Nota de rodapé: Bourne Ultimatum tem história, mas é difícil aceitar que nunca o vejam...

09 setembro 2007

De mim, nada: estou a entrar na fase leão... e dela não devo sair já. Penso que na vida todos temos apenas uma mudança; a minha é da categoria mais básica: de camelo para leão. Os outros, que nascem agora, e que já vêm em fase leão, deverão poder mudar para a fase criança. Para ser mais preciso, sou neste momento um leão com bossas...
Aproxima-se o teu Über, Nietzsche!

UM PÁLIDO RAIO DE LUZ NA NOITE DO RACIOCÍNIO

“Toda a existência terrena está calcada nos instrumentos que servem para as manifestações espirituais e, infelizmente, a vossa excessiva dedicação a esses aparelhos viciou o nosso mundo emotivo, circunscrevendo as suas possibilidades ao ambiente terrestre, onde apenas possuís pálida réstia de luz na noite de um fraco raciocínio.

Não soubestes, contudo, dentro da pequenez educacional que vos foi parcamente ministrada, descerrar o velário angusto que encobre o santuário infinito da vida, acomodando-vos entre as acanhadas concepções, que vos foram impingidas pelas ideias religiosas e que amesquinham a grandeza do Criador do Universo, na fase do orbe que vindes de abandonar. Criar um local fantástico de gozo beatífico ou de sofrimento eterno e inelutável, centralizar a vida num globo de sombra, é, somente obra da ignorância desconhecedora da omnipotência e sabedoria divinas.

É que a vida não palpita, apenas, no mundo distante, onde abandonastes as vossas derradeiras ilusões: em toda a parte ela pulula triunfante e o veículo das suas manifestações é o que se diversifica na multiplicidade dos seus planos. Os mundos são a continuidade dos outros mundos e os céus sucedem-se ininterruptamente através dos espaços ilimitados”.


Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

24 julho 2007

Everything But The Girl - Missing

01 julho 2007

The Greeks

I would have no one admire a thing - a statue, a poem, a personality - because it is Greek. But I would have those who read this book love such things because they are human. For antiquity is nothing: however long ago King Minos died, while he lived he was flesh and blood; though the ashes of Perikles have been for ages no more than a handful of the world's dust, he lived once, not a name, not a shadowy figure of history, but a human being. The men and women of to-day are no more than that, and no less.
That is why to admire Greek sculpture, Greek literature, Greek art as a whole, to study them, even to love them, solely as art, is not to understand them wholly. To proclaim the Greeks the greatest artists of all time is cold gospel; they were so, they are still, not because they are so long dead, but because they were once so intensely alive. It is their eternal modernity that matters.


S. C. Kaines Smith, from the preface to Greek Art and National Life (1915 - second edition)

25 junho 2007

@ua.pt



O meu novo endereço de email da UA, em vigor a partir deste fim-de-semana.

14 junho 2007

"A small step for man..."

Been out for a while, because, as Elvis used to say, "less conversation more action". But had to take out some time to say something about the blog of one of my friends. Sadly, it's not meant to be a mirror of hers, but a place to expose her for sale female creations. Anyway, always a good place to watch, as if a museum, beautifully handcrafted moon pieces. Wish you all the luck, Ângela.

http://pedacosdelua.blogspot.com/

29 maio 2007

Shôr Dótor




26 de Maio de 2007, entrega dos diplomas aos licenciados de 2005-06. Quase duas horas depois do começo, foi chamado o nosso moribundo curso.

Está disponível online o discurso da Exma. Reitora, aqui, mas omitiram a parte em que ela manda calar toda a gente...

28 maio 2007

Mulher, cuidado com o amor

Artigo da revista "Crónica Feminina", nº 377 (13-2-1964). Como há a Feira do Livro ali no Rossio, aproveitei para dar uma vista de olhos no Alfarrabista, e não resisti a comprar uns exemplares desta percursora da Maria. Toda a mulher a lia. Entre notícias do género da Lux, Caras, Hola!, etc., havia também conselhos femininos. O que se segue é de uma riqueza ímpar...
Assim se educavam as mulheres durante o Fascismo.

24 maio 2007

I cannot live without you. The other "Boca do Infierno" will get me - it will not be as hot as yours!
Hysos!
Fernando Pessoa (Aleister Crowley)

18 maio 2007

Caloiro 2001



As coisas que um gajo vai buscar... Velhos tempos, num ano muito especial.


14 maio 2007

Peter & The Proclaimers

12 maio 2007

Poucos, mas bons...

Bill Withers - Ain't No Sunshine

06 maio 2007

Aya Ueto as Misaki-san in "Attention Please"

Yoroshiku onegai itashimasu...

20 abril 2007

Doces da Páscoa

Há quem dê cabo do fígado com álcool... mas para mim é mesmo o conteúdo de embalagens como estas:


15 abril 2007

Sinead O'Connor with Asian Dub Foundation - 1000 Mirrors



Chico Xavier - O caso do avião



Programa "Pinga-Fogo" (1971)

Nelly Furtado - All Good Things

We are what we don't see


11 abril 2007

Hubble Deep Field

07 abril 2007

Deftones - Passenger

01 abril 2007

Massive Attack - Live With Me

Deixa-me sempre sem palavras...

29 março 2007

Nos últimos tempos do meu macerado corpo na Terra, eu procurava levantar as camadas endurecidas que escondiam aquelas curiosas experiências a que havia assistido, e queria ver se o meu espírito doente, no corpo doente, podia, numa acuiddade suprema, prever a verdade do singular mistério da morte. Mas ele recuou mais uma vez, ante a seriedade de uma coisa para que se confessara fraco.
E eu, que não queria extinguir-me, armei dentro em meu peito um luminoso altar ao Deus de minha mãe: afervorei-me a ele, e reflecti: - Deve ser verdade a existência de Deus e da vida eterna.
Uma ideia não atravessaria os tempos, sempre firme e sempre grande, vencendo todos os obstáculos que a maldade dos homens lhe tem anteposto, se não fosse a eterna e indestrutível verdade.
E depois minha mãe crê, e quero crer também.
Tenho espalhado tanto riso, e concentrado tanta dor, que bem posso agora pôr a minha alma a rir, no momento final em que o meu alquebrado corpo vai consumar a dor derradeira.
Assim passei.
O meu «eu», mineiro empobrecido e alquebrado da mina da ironia, entrou na vida sonhada e crida, à força de vontade, e sorridente e feliz, por ter despido o porco escafandro em que atravessara esse imundo charco, que se chama - mundo.
Nunca tiveste a sorte grande, não?
Não; mas os que a hajam tido que te expliquem a sensação de assombro, de alegria doida, que os toma no terem a almejada notícia. Entretanto eles não jogaram nunca senão para terem essa sorte.
Ora foi o que me aconteceu.
Nos últimos momentos que vivi nesse vale de lágrimas... de crocodilo, enclavinhei as minhas unhas de náufrago na tábua da derradeira esperança no ressurgimento, como um jogador «enragé» na esperança da sorte máxima. Pois fui tomado de igual assombro ao ver que essa sorte me tinha saído, e que este corpo, só de ossos feito, jazia estatelado no fofo colchão onde finalizou a sua marcha, e eu - o meu apetecido «eu» espiritual - me despegava dele como de uma véstia inútil e sebosa, saindo daquela desengonçada prisão, como um pintassilgo de uma gaiola velha.
Não sei se o pintassilgo, ao sentir-se livre, canta imediatamente hinos à liberdade querida; eu é que, confesso, não me senti logo com muita vocação para a cantoria.
É que nesse ramo da «bell' arte di canto» fui sempre um desgraçado.
Trauteava às vezes, baixinho, a medo de me surpreender eu próprio no estranho caso, um fadinho brejeiro ou uma modinha de Vila do Conde; e qualquer dessas coisas não tinha na grandeza a solenidade do acto, nem o «entrain» de uma «marseillaise» celestial; por isso senti grande embaraço na conjuntura.
A minha consciência - o tal guarda-livros a que anteontem te aludi - deu-me um repelão furioso e tirou-me da dificuldade; e cruzando os braços diante de mim, perguntou-me em fera catadura:
- Vamos, «blasé»; vamos, vencido da vida (oh! oh!); vamos, ironista; vamos, idiota, dize lá o que fizeste.
Por onde andaste com esse fenomenal riso de parvo?
Que bagagem dás ao manifesto, ao passar a aduana celestial?...
Senti-me aterrado.
Nunca nas minhas mais fantásticas concepções imaginei que houvesse aqui uma sucursal da aduana portuguesa.
Era a mesma delicadeza e a mesma curiosidade!
Estaquei de assombro, e reflecti que devia ser bem poderosa a minha pátria lusa, para estender as suas raias além da imortalidade. Procurei equilibrar-me, e relfexionei: - Vamos, tendo de haver aqui guarda fiscal e não sendo francesa, prefiro então que seja minha patrícia. E quis parlamentar.
Mostrei a minha rica bagagem.
- Olhe, aqui tem. Este é o crime da Estrada de Cintra - o meu primeiro crime...
Abriu os olhos e respondeu:
- Isto aqui não é Boa-Hora. Diga o que traz. Eu não tenho nada com os seus crimes...
- ... «O Crime do Padre Amaro»...
- Já lhe disse que isto aqui não é a Boa-Hora... que tenho eu agora com o crime do Padre Amaro?... Padres criminosos têm aqui passado muitos...
- ... «O Primo Basílio»...
- Não preciso conhecer a família... Adiante.
- ... «O Mandarim»...
- Mau! Você está a brincar comigo? Que tenho eu com os mandarins? Nós não estamos na China, no Celeste Império, estamos no império celeste.
Achei graça ao trocadilho garrídico do Cérbero aduaneiro, e continuei:
- «Maias», «Fradique Mendes», «Relíquia», «Cidades e as Serras», cartas de várias partes do globo terráqueo, artigos de revistas, jornais, contos...
- Homem, pare lá! Mas que tenho eu com isso?...
Fez-se luz para mim. Esquecia-me de que a guarda fiscal portuguesa não sabia ler!!!
- Pois, senhora guarda fiscal, não trago mais nada útil.
- Pois, senhor viajante, será mais verdadeiro se disser que não traz nada útil.
Bagagem avariada, bagagem avariada!
Pode passar sem pagar despacho, mas não lhe auguro nada de bom aí mais para diante. Vai suceder-lhe como à cigarra de La Fontaine: - cantou mas vai dançar agora...
Aterrorizei-me. Que me iria suceder?
Eça de Queirós, Póstumo (pp. 29 - 32)

28 março 2007


"Tudo se encadeia na natureza desde o átomo primitivo até ao Arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo."

19 março 2007

LC 1, 68


Cada criatura humana é constituída de trilhões de células. Cada célula é um ser espiritual, individualizado da Centelha Divina, e que já ultrapassou os estágios mineral e vegetal, iniciando-se na fase animal. Compreendamos bem que, nesse estágio, a célula é um vórtice energético animado por um ser espiritual, que se reveste de matéria física para constituir o corpo denso da criatura. Repisemos: o corpo astral ou perispírito, no ventre materno, não se materializa em bloco: sua materialização é o resultado da materialização parcelada de cada uma de suas células.
Avancemos. Cada ser, ao sair do estado monocelular, vai crescendo pela lei das Unidades Coletivas (Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese), e vai necessitando de auxiliares para desempenhar suas funções que se multiplicam. Vai então agregando a si outros seres monocelulares, que o acompanharão durante todo o curso evolutivo.
Ao chegar ao estado humano, o número de suas células está mais ou menos fixado, e a criatura se vai elevando na escala servido sempre pelas células servis, como auxiliadoras preciosas de sua evolução. As células são AS MESMAS vida após vida, embora o envoltório físico dessas células varie de vida para vida e até dentro de uma mesma existência da criatura, elas morrem e renascem, isto é, perdem a matéria física e retomam outra. A prova de que a parte espiritual das células é a mesma, e de que só seu corpo se refaz, é que as cicatrizes profundas da infância se mantêm até a velhice, embora a ciência tenha confirmado que, após cada sete anos, todas as células se renovam (menos as nervosas, que pertencem ao corpo etérico e não ao físico). Então, elas se renovam, sim, mas só no corpo físico, que é a contrapartida, a materialização de seu corpo perispiritual ou astral. E as cicatrizes profundas afetam o corpo astral das células, e por isso não desaparecem, pois atingem o vórtice energético. No entanto, as pequenas e leves cicatrizes, que só atingiram o corpo físico das células, essas desaparecem quando as células tomam outro corpo físico.
Ora, essas células, seres espirituais com mente própria (tanto que sabem sua função específica e a executam a rigor) evoluirão também. Enquanto permanecem no corpo humano, possuem a chamada alma grupo, constituída por nosso próprio espírito, e são governadas por nossa mente subconsciente. Tanto assim que se nos desequilibra e aparecem os distúrbios e enfermidades.
Mas, ascendendo lentissimamente pela escala animal, atingirão após milênios de milênios, a escala humana. A esse ponto, a criatura humana que foi servida por essas células (hoje criaturas humanas) já atingiu grau evolutivo elevadíssimo e terá sob sua responsabilidade todo esse conglomerado humano, que constituirá o seu povo.
Aqui temos uma explicação do grande motivo que impeliu Yahweh (Jesus) a criar o planeta (ou todo o sistema planetário), para acolher-nos em nossa evolução: esta humanidade, que aqui vive, é constituída das antigas células que, em épocas imemoriais, formaram os corpos de Jesus durante sua passagem pela escala hominal em outros planetas. Ajudamo-lo em Sua evolução hominal e Ele agora ama-nos entranhadamente, até o sacrifício, e veio entre nós o que era Seu, para ajudar-nos a libertar-nos do jugo da matéria. (Esclareçamos, todavia, que não nos referimos ao corpo de Jesus materializado em sua última passagem pela Terra há dois mil anos. Não. O que dizemos ocorreu há bilhões de anos atrás).

C. Torres Pastorino, Sabedoria do Evangelho, T. I

16 março 2007




Não é difícil adivinhar a marca do meu telemóvel...

13 março 2007

P.1.81-83




A condição de possibilidade de unir as pontas soltas, a união que as ata, aglutina, é dada por Zeus, de acordo com Píndaro. Zeus é simplesmente possibilitante. É-o ao dar-nos a oportunidade, ao criar a ocasião para nos definirmos, ou redefinirmos, ao dar-nos uma hipótese. O momento oportuno aglutina numa dispensa de sentido todas as possibilidades da minha vida, de forma a estabelecer o nexo. O kairós totaliza os fragmentos estilhaçados da nossa vida, dá uma união, dispende sentido, abre caminho por onde ir, anula o carácter avulso de tudo. A obra fundamental do momento oportuno é de compreensão do que está disperso no todo das nossas vidas. Executa-nos. No limite é um mega organizador temporal, labora o tempo e elabora-nos através dele a partir do seu interior. O seu sentido não é causal, é simplesmente compreensivo. Poucos são os que estão à altura deste acontecimento. Os grandes homens são os que compreendem uma possibilidade simplesmente possibilitante. As suas vidas não são apenas momentos de emancipação do passado, da tradição. Todo o movimento de emancipação é definido negativamente, é um livrar-se de qualquer coisa, mas de que nunca verdadeiramente nos soltamos; podemos ficar uma vida inteira a tentar definirmo-nos relativamente àquilo de que nos deixámos, àquilo que deixámos de ser. A emancipação pode não libertar. Assim, as vidas dos grandes homens apenas extrinsecamente, como que por uma descrição e observação do exterior, são cortes com o passado, rupturas e formas de emancipação. Mas é a possibilidade intrínseca da mudança, o libertar-se para qualquer coisa de completamente diferente, um outro ser o que está verdadeiramente em causa nas suas vidas. É por se tornarem num futuro diferente, radicalmente outro, é por essa mudança ser uma possibilidade para a humanidade no seu todo, por haver futuro que a ruptura é feita. Não basta livrarmo-nos de... é necessário libertarmo-nos para.



António de Castro Caeiro, Píndaro - Odes Píticas

02 março 2007

Não espero mais do que aquilo que tenho: espero, sim, não perder o que a tanto custo já consegui. Mas é como se me escorregasse dos dedos... Se calhar não é com estas mãos que se pode segurar...

23 fevereiro 2007

Quilómetro doze

na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje
na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


José Luis Peixoto, Cemitério de Pianos

22 fevereiro 2007

A kid with a candy...

17 fevereiro 2007

Coldplay - Don't Panic




Habituaram-me (Bandeira e Ângela) a associar esta música a tardes de sol, em Pombal, com saudades de estar aqui onde agora estou. Mas agora, que aqui estou, tenho uma sensação de nostalgia desses momentos...

16 fevereiro 2007

Magna Tuna Cartola - Fim

14 fevereiro 2007


Estes 24 anos... têm sido úteis? Têm sido bem aproveitados? Quanto mais cedo começar, melhor.

The Door

18 janeiro 2007

On one hand...





... and on the other:


14 janeiro 2007

The Last Rose of Summer


’TIS the last rose of summer
Left blooming alone;
All her lovely companions
Are faded and gone;
No flower of her kindred,
No rosebud is nigh,
To reflect back her blushes,
To give sigh for sigh.

I’ll not leave thee, thou lone one!
To pine on the stem;
Since the lovely are sleeping,
Go, sleep thou with them.
Thus kindly I scatter
Thy leaves o’er the bed,
Where thy mates of the garden
Lie scentless and dead.

So soon may I follow,
When friendships decay,
And from Love’s shining circle
The gems drop away.
When true hearts lie withered
And fond ones are flown,
Oh! who would inhabit
This bleak world alone?

Thomas Moore

183 - Sunset over Maadi



Do nosso quarto de hotel no Cairo, vens da janela, exibindo vestidas as roupas que compraste no mercado; eu, estendido nas almofadas, contemplo-te. Vens até mim, em gestos de dançarina, agarras-me pela mão: ouço os berloques das pulseiras. Levanto-me para ti, e levas-me até à varanda, onde, de lugar algum, começa a soar esta música...



03 janeiro 2007

Supermoves



Vou no deserto, corro, arrasto-me pela areia, pareço o esplêndido Lázaro, escorrego nas dunas, levanto-me, enterro os pés no chão, as pernas fraquejam mas obrigo-as a correr, a ir rápido, a mover-me rápido, a rasgar o ar que desliza pela minha cara como uma lâmina. Quero fugir de ti, do teu nome, do que és em mim. Imagino-te num lugar distante de onde fujo, e dou balanço para correr ainda mais rápido, levanto-me, e já não sei donde corria, por isso corro a partir de onde estou, para onde estou virado, imagino-te num lugar atrás de mim, fujo de ti, que afinal não és tu, é a minha projecção de ti em mim, a areia que salta das minhas passadas desliza-me como o sol, o ar é tão rarefeito que me sufoca, os olhos mal se abrem. Paro. Tento recuperar o fôlego.

Descansar um pouco
Mas começo de novo a voar
Para junto de ti
Quero-te!, quero estar ao pé de ti, contigo, ser um só contigo! Onde estás? É para aí que vou! Quero-te! Não posso estar sem ti!, corro desabridamente para ti, preciso estar próximo de ti, só contigo estou vivo, é em ti que posso encontrar a cura da seca deste deserto que sou eu, vou até ti, que estarás ao fundo, logo além do horizonte para onde olho, sim, só pode ser ali, é para aí que vou, é para ti que vou, as forças faltam-me mas não paro de correr, o ar foge-me mas não paro, vou a ti, vou a ti, vou a ti!
o deserto nunca mais acaba
é contínuo
sou-o.

02 janeiro 2007

Metáfora de ti...

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