29 julho 2012



Emília era uma mulher de feições quasi vulgares, magra, testa alta, rosto oval com as faces ligeiramente angulosas, a bocca grande, os labios delgados, o nariz secco e pronunciado; mas uma mobilidade d'olhar, de gestos e de sorrisos, desprendidos entre um collar de dentes sem mancha, que enfeitiçava. Com excepção dos olhos que eram soberbos de doçura e languidez, nem uma só feição que merecesse a arte atteniense; ainda assim, um poder d'attracção enebriante.

Jaime de Magalhães Lima,  Transviado (1899)

13 setembro 2009

23 agosto 2009


(Mila Jovovich)
Mais bonitos, só os teus.

14 agosto 2009

Excel Saga ending theme

Andei perdido no Google só para conseguir descobrir esta pérola de toda a história da Anime... Quantas noites me deitei a altas horas só para ver esta série no Locomotion (quando a Cabovisão ainda tinha este canal), e rir como um doido quando dava as cenas da Excel a querer comer a Menchi... Este vídeo devia fazer parte da cultura geral de toda a gente!

13 agosto 2009

Tenho uma vaga, ténue ideia do que levou a que esta minha vida tivesse que ser assim. Obrigado, Deus, por me obnubilares o meu passado vergonhoso. Eis-me disposto, com toda a vossa ajuda, companheiros maiores, que persistiram para que eu chegasse aqui; eis-me para fazer, para trabalhar, para progredir, para poder ser cada vez mais útil ao bem universal, eis-me disposto a trabalhar convosco. Muito tempo já passou, as outras vidas todas e o que já lá vai desta; agora, há que fazer quod est faciendum.
O desejo foi tomando dimensões insuportáveis, e de repente todas aquelas pessoas estavam a mais; já mal conseguia disfarçar quando te tocava, quando passava por ti deixava a minha mão mais solta do teu lado, quando ficava ombro a ombro contigo (embora de costas um para o outro) e ia descaindo um pouco, e só conseguia ouvir a tua voz, olhar para o teu corpo, querer vê-lo mais... Assim que pude, meti conversa contigo. Estávamos só nós dois. E suavemente fugimos para um lugar mais resguardado, tentando que ninguém desse pela nossa ausência. E naquela pequena sala escura o meu desejo encontrou o teu, ali as tuas pernas dominaram a minha cintura e o teu peito dançou à minha frente. As tuas mãos apertavam-me a roupa, as minhas embalavam as tuas coxas - e o teu rosto de prazer só acelerava o meu. Muito bom.

Ne faciatur


Obrigado por já não ser assim...

15 julho 2009

No pátio da tua casa, o lume ia escurecendo algumas febras, algumas barrigas, e também umas salsichas frescas, e iluminava à sua volta a noite que já estava de todo afirmada no imenso céu. Nós dois, à mesa, íamos rindo, mandávamos uns ditos mais espirituosos um contra o outro, e comíamos. A um dado momento, levantei-me e sentei-me a teu lado. Peguei nos teus talheres, preparei a tua comida e fui dando-ta à boca; também um bocado de sumo, quando tinhas sede; passava-te leve o guardanapo em torno dos lábios, quando era preciso; e as mais das vezes os meus dedos passavam, ligeiros, no teu pescoço, debaixo do cabelo, circundavam a orelha, pousavam no ombro. O ambiente ficou mais silencioso, depois de tu, a princípio, te teres rido da situação. Olhaste-me bem nos olhos, pegaste-me nas mãos e conduziste-me ao quarto. Sentaste-me na cama, para te ver enquanto tu, de pé, te despias. Os nossos olhos não se largavam. Quando apenas a roupa interior se mantinha sobre ti, levantei-me, pus as minhas mãos nos teus ombros, e beijámo-nos. Rapidamente me desfiz das minhas roupas, e ali mesmo, em pé, sentimo-nos. Eu apertava a tua cintura contra a minha, tu estonteavas-me o cabelo com as mãos, e a língua com a boca. Depois... houve magia.
É complexo e parece, ao mesmo tempo, impossível. Só te vejo como alguém a quem amo, mas de quem não consigo ser desinteressadamente amigo. A amizade contigo é sempre um meio para algo mais, na relação entre nós há, para mim, sempre a tendência para não ficar apenas como teu amigo: quero sempre, e de forma automática o faço, mais.
A luz vai morrendo devagar nos lençóis amarrotados e dispersos, que mal chegam para nos cobrir. No quarto, na sala, na cozinha - em cada lugar da casa há marcas da nossa passagem, quando perdidos um no outro dançávamos as nossas sensações na ternura ébria das pequenas carícias


Conheceram-se no sítio X. Ele ficou perdidamente apaixonado por ela. Houve alturas em que a amou, mesmo. Convidou-a para um festival de Verão, coisa que ela entendeu como um gesto bonito, simpático, nada mais. Mas ele falava a sério, e por isso lhe deu um bilhete para o dia que, julgava ela na brincadeira, haviam marcado. Pelas voltas da vida, ela teve de lhe dar um banho de água arrefecida com o gelo da realidade, e ele, para não querer sujeitá-la mais àquelas situações embaraçosas e desnecessárias, pediu-lhe a ela que não lhe falasse mais. Acontece que, mesmo que quisessem ir e o destino tivesse aprovado que eles estivessem de bem nesse dia, não poderiam ainda assim ir ao festival: porque havia trabalho a fazer no sítio X. Irónico, mas, apesar de mal se verem, estiveram sob o mesmo tecto nesse mesmo dia, apenas não onde queriam, mas onde realmente eram precisos.


13 dezembro 2007

Não gosto de ser vulgar, igual aos outros, mas sou-o em imensas coisas. Isso pesa-me mais vezes do que eu gostaria. Se há coisa em que não me importe de ser igual aos outros é em ser fã incondicional de José Luis Peixoto, que conheci por intermédio da Ângela. Tivesse ele apenas guardado o Cemitério no seu lugar... Ainda não vi a Cal. Lido e relido dezenas de vezes, o seguinte texto da Criança em Ruínas nunca deixa de ser perturbador, mas, como o autor, um grande trabalho da língua portuguesa:

esse filho só de sangue que te escorre pelas pernas
sou eu. podíamos ter-lhe ensinado as palavras, mas
o seu nome é agora de sangue. podíamos ter-lhe
mostrado o céu, mas o seu olhar é agora de sangue.
podíamos ter fechado a sua mão pequena dentro da
nossa, mas a sua mão é agora de sangue. esse filho
só de sangue que te escorre pelas pernas e morre
sou eu, o meu sangue e a minha memória.


Depois de ler este texto, como alguns outros do Peixoto, é como se eu tivesse andado à tareia e estivesse a sentir as mazelas no corpo...

17 novembro 2007

O burro apanhou pancada
E, como é burro,
Serviu-lhe a lição de nada.
Não é como o homem: porque esse
Quando um enredo se tece
Aprende, fica lembrado...
Ou fica capacitado
Que é assim que lhe acontece.

Leitor – percorre o passado.
Quanto aprendeste na estrada?
Por mim, não aprendi nada,
Como o burro.

Fernando Pessoa (2-11-1933)

05 novembro 2007

Who's on first?




São grandes...

23 outubro 2007

Morde-me com o querer-me que tens nos olhos
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti-própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te...

Desfolha sonhos teus de dando-te variamente,
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me... E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção...

Possue-me-te, seja eu em ti meu spasmo e um rocio
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha...
Meu amor será o sair de mim do teu ocio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?



Fernando Pessoa (22-5-1913)

25 setembro 2007

do fundo do mar

"Não é o crime que nos arrasta ao desequilíbrio, mas o desequilíbrio que nos atira ao crime. Se não mantivermos a vigilância sob nós mesmos, cairemos na roda viva e iremos do desequilíbrio para as falhas, às faltas e para o crime. Do crime voltaremos para o desequilíbrio e aí rolaremos na roda das reencarnações, de que falava o Buda e nesse vai e vem maluco permaneceremos séculos e milénios, do qual dificilmente sairemos por nós mesmos, dependendo que uma força externa, fruto de um amor, de um ou de alguns Espíritos amigos que nos amem, nos salvará. Fora isso, sem a interferência dessas almas amorosas, e amantes, ficaremos nas mãos indiferentes do acaso que nos deixam abandonados, caindo infindavelmente no ABISMO de nós mesmos, de tal maneira que, aparentemente, parece uma queda eterna no sentido de atingir o ser que cai, a desintegração total por falta de energia"...

Aglon

20 setembro 2007





Breathe.mp3

17 setembro 2007

A TERRA VISTA DO ALÉM

Lá está a Terra com os seus contrastes destruidores; os ventos da iniquidade varrem-na de pólo a pólo, entre os brados angustiosos dos seres que se debatem na aflição e no morticínio. O que viste é o efeito das vibrações antagónicas, emitidas pela humanidade atormentada nas calamidades da guerra. Lá alimentam-se as almas com a substância amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do mais forte. Triste existência a dessas criaturas que se trucidam mutuamente para viver.
São comuns, ali, as chacinas, a fome, a epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro planeta de exílio e de sombra! Entretanto, no universo, poucos lugares abrigarão tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo necessita de golpes violentos e rudes.
Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

16 setembro 2007

... pequenos momentos, simples, como ouvir a Cyndi Lauper dizer "girls", ou alguém exclamar emocionado: "A mãe do Bambi morreu!"
Nota de rodapé: Bourne Ultimatum tem história, mas é difícil aceitar que nunca o vejam...

09 setembro 2007

De mim, nada: estou a entrar na fase leão... e dela não devo sair já. Penso que na vida todos temos apenas uma mudança; a minha é da categoria mais básica: de camelo para leão. Os outros, que nascem agora, e que já vêm em fase leão, deverão poder mudar para a fase criança. Para ser mais preciso, sou neste momento um leão com bossas...
Aproxima-se o teu Über, Nietzsche!

UM PÁLIDO RAIO DE LUZ NA NOITE DO RACIOCÍNIO

“Toda a existência terrena está calcada nos instrumentos que servem para as manifestações espirituais e, infelizmente, a vossa excessiva dedicação a esses aparelhos viciou o nosso mundo emotivo, circunscrevendo as suas possibilidades ao ambiente terrestre, onde apenas possuís pálida réstia de luz na noite de um fraco raciocínio.

Não soubestes, contudo, dentro da pequenez educacional que vos foi parcamente ministrada, descerrar o velário angusto que encobre o santuário infinito da vida, acomodando-vos entre as acanhadas concepções, que vos foram impingidas pelas ideias religiosas e que amesquinham a grandeza do Criador do Universo, na fase do orbe que vindes de abandonar. Criar um local fantástico de gozo beatífico ou de sofrimento eterno e inelutável, centralizar a vida num globo de sombra, é, somente obra da ignorância desconhecedora da omnipotência e sabedoria divinas.

É que a vida não palpita, apenas, no mundo distante, onde abandonastes as vossas derradeiras ilusões: em toda a parte ela pulula triunfante e o veículo das suas manifestações é o que se diversifica na multiplicidade dos seus planos. Os mundos são a continuidade dos outros mundos e os céus sucedem-se ininterruptamente através dos espaços ilimitados”.


Cartas de uma Morta (Psicografia de Chico Xavier)

24 julho 2007

Everything But The Girl - Missing

01 julho 2007

The Greeks

I would have no one admire a thing - a statue, a poem, a personality - because it is Greek. But I would have those who read this book love such things because they are human. For antiquity is nothing: however long ago King Minos died, while he lived he was flesh and blood; though the ashes of Perikles have been for ages no more than a handful of the world's dust, he lived once, not a name, not a shadowy figure of history, but a human being. The men and women of to-day are no more than that, and no less.
That is why to admire Greek sculpture, Greek literature, Greek art as a whole, to study them, even to love them, solely as art, is not to understand them wholly. To proclaim the Greeks the greatest artists of all time is cold gospel; they were so, they are still, not because they are so long dead, but because they were once so intensely alive. It is their eternal modernity that matters.


S. C. Kaines Smith, from the preface to Greek Art and National Life (1915 - second edition)

25 junho 2007

@ua.pt



O meu novo endereço de email da UA, em vigor a partir deste fim-de-semana.

14 junho 2007

"A small step for man..."

Been out for a while, because, as Elvis used to say, "less conversation more action". But had to take out some time to say something about the blog of one of my friends. Sadly, it's not meant to be a mirror of hers, but a place to expose her for sale female creations. Anyway, always a good place to watch, as if a museum, beautifully handcrafted moon pieces. Wish you all the luck, Ângela.

http://pedacosdelua.blogspot.com/

29 maio 2007

Shôr Dótor




26 de Maio de 2007, entrega dos diplomas aos licenciados de 2005-06. Quase duas horas depois do começo, foi chamado o nosso moribundo curso.

Está disponível online o discurso da Exma. Reitora, aqui, mas omitiram a parte em que ela manda calar toda a gente...

28 maio 2007

Mulher, cuidado com o amor

Artigo da revista "Crónica Feminina", nº 377 (13-2-1964). Como há a Feira do Livro ali no Rossio, aproveitei para dar uma vista de olhos no Alfarrabista, e não resisti a comprar uns exemplares desta percursora da Maria. Toda a mulher a lia. Entre notícias do género da Lux, Caras, Hola!, etc., havia também conselhos femininos. O que se segue é de uma riqueza ímpar...
Assim se educavam as mulheres durante o Fascismo.

24 maio 2007

I cannot live without you. The other "Boca do Infierno" will get me - it will not be as hot as yours!
Hysos!
Fernando Pessoa (Aleister Crowley)

18 maio 2007

Caloiro 2001



As coisas que um gajo vai buscar... Velhos tempos, num ano muito especial.


14 maio 2007

Peter & The Proclaimers

12 maio 2007

Poucos, mas bons...

Bill Withers - Ain't No Sunshine

06 maio 2007

Aya Ueto as Misaki-san in "Attention Please"

Yoroshiku onegai itashimasu...

20 abril 2007

Doces da Páscoa

Há quem dê cabo do fígado com álcool... mas para mim é mesmo o conteúdo de embalagens como estas:


15 abril 2007

Sinead O'Connor with Asian Dub Foundation - 1000 Mirrors



Chico Xavier - O caso do avião



Programa "Pinga-Fogo" (1971)

Nelly Furtado - All Good Things

We are what we don't see


11 abril 2007

Hubble Deep Field

07 abril 2007

Deftones - Passenger

01 abril 2007

Massive Attack - Live With Me

Deixa-me sempre sem palavras...

29 março 2007

Nos últimos tempos do meu macerado corpo na Terra, eu procurava levantar as camadas endurecidas que escondiam aquelas curiosas experiências a que havia assistido, e queria ver se o meu espírito doente, no corpo doente, podia, numa acuiddade suprema, prever a verdade do singular mistério da morte. Mas ele recuou mais uma vez, ante a seriedade de uma coisa para que se confessara fraco.
E eu, que não queria extinguir-me, armei dentro em meu peito um luminoso altar ao Deus de minha mãe: afervorei-me a ele, e reflecti: - Deve ser verdade a existência de Deus e da vida eterna.
Uma ideia não atravessaria os tempos, sempre firme e sempre grande, vencendo todos os obstáculos que a maldade dos homens lhe tem anteposto, se não fosse a eterna e indestrutível verdade.
E depois minha mãe crê, e quero crer também.
Tenho espalhado tanto riso, e concentrado tanta dor, que bem posso agora pôr a minha alma a rir, no momento final em que o meu alquebrado corpo vai consumar a dor derradeira.
Assim passei.
O meu «eu», mineiro empobrecido e alquebrado da mina da ironia, entrou na vida sonhada e crida, à força de vontade, e sorridente e feliz, por ter despido o porco escafandro em que atravessara esse imundo charco, que se chama - mundo.
Nunca tiveste a sorte grande, não?
Não; mas os que a hajam tido que te expliquem a sensação de assombro, de alegria doida, que os toma no terem a almejada notícia. Entretanto eles não jogaram nunca senão para terem essa sorte.
Ora foi o que me aconteceu.
Nos últimos momentos que vivi nesse vale de lágrimas... de crocodilo, enclavinhei as minhas unhas de náufrago na tábua da derradeira esperança no ressurgimento, como um jogador «enragé» na esperança da sorte máxima. Pois fui tomado de igual assombro ao ver que essa sorte me tinha saído, e que este corpo, só de ossos feito, jazia estatelado no fofo colchão onde finalizou a sua marcha, e eu - o meu apetecido «eu» espiritual - me despegava dele como de uma véstia inútil e sebosa, saindo daquela desengonçada prisão, como um pintassilgo de uma gaiola velha.
Não sei se o pintassilgo, ao sentir-se livre, canta imediatamente hinos à liberdade querida; eu é que, confesso, não me senti logo com muita vocação para a cantoria.
É que nesse ramo da «bell' arte di canto» fui sempre um desgraçado.
Trauteava às vezes, baixinho, a medo de me surpreender eu próprio no estranho caso, um fadinho brejeiro ou uma modinha de Vila do Conde; e qualquer dessas coisas não tinha na grandeza a solenidade do acto, nem o «entrain» de uma «marseillaise» celestial; por isso senti grande embaraço na conjuntura.
A minha consciência - o tal guarda-livros a que anteontem te aludi - deu-me um repelão furioso e tirou-me da dificuldade; e cruzando os braços diante de mim, perguntou-me em fera catadura:
- Vamos, «blasé»; vamos, vencido da vida (oh! oh!); vamos, ironista; vamos, idiota, dize lá o que fizeste.
Por onde andaste com esse fenomenal riso de parvo?
Que bagagem dás ao manifesto, ao passar a aduana celestial?...
Senti-me aterrado.
Nunca nas minhas mais fantásticas concepções imaginei que houvesse aqui uma sucursal da aduana portuguesa.
Era a mesma delicadeza e a mesma curiosidade!
Estaquei de assombro, e reflecti que devia ser bem poderosa a minha pátria lusa, para estender as suas raias além da imortalidade. Procurei equilibrar-me, e relfexionei: - Vamos, tendo de haver aqui guarda fiscal e não sendo francesa, prefiro então que seja minha patrícia. E quis parlamentar.
Mostrei a minha rica bagagem.
- Olhe, aqui tem. Este é o crime da Estrada de Cintra - o meu primeiro crime...
Abriu os olhos e respondeu:
- Isto aqui não é Boa-Hora. Diga o que traz. Eu não tenho nada com os seus crimes...
- ... «O Crime do Padre Amaro»...
- Já lhe disse que isto aqui não é a Boa-Hora... que tenho eu agora com o crime do Padre Amaro?... Padres criminosos têm aqui passado muitos...
- ... «O Primo Basílio»...
- Não preciso conhecer a família... Adiante.
- ... «O Mandarim»...
- Mau! Você está a brincar comigo? Que tenho eu com os mandarins? Nós não estamos na China, no Celeste Império, estamos no império celeste.
Achei graça ao trocadilho garrídico do Cérbero aduaneiro, e continuei:
- «Maias», «Fradique Mendes», «Relíquia», «Cidades e as Serras», cartas de várias partes do globo terráqueo, artigos de revistas, jornais, contos...
- Homem, pare lá! Mas que tenho eu com isso?...
Fez-se luz para mim. Esquecia-me de que a guarda fiscal portuguesa não sabia ler!!!
- Pois, senhora guarda fiscal, não trago mais nada útil.
- Pois, senhor viajante, será mais verdadeiro se disser que não traz nada útil.
Bagagem avariada, bagagem avariada!
Pode passar sem pagar despacho, mas não lhe auguro nada de bom aí mais para diante. Vai suceder-lhe como à cigarra de La Fontaine: - cantou mas vai dançar agora...
Aterrorizei-me. Que me iria suceder?
Eça de Queirós, Póstumo (pp. 29 - 32)

28 março 2007


"Tudo se encadeia na natureza desde o átomo primitivo até ao Arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo."

19 março 2007

LC 1, 68


Cada criatura humana é constituída de trilhões de células. Cada célula é um ser espiritual, individualizado da Centelha Divina, e que já ultrapassou os estágios mineral e vegetal, iniciando-se na fase animal. Compreendamos bem que, nesse estágio, a célula é um vórtice energético animado por um ser espiritual, que se reveste de matéria física para constituir o corpo denso da criatura. Repisemos: o corpo astral ou perispírito, no ventre materno, não se materializa em bloco: sua materialização é o resultado da materialização parcelada de cada uma de suas células.
Avancemos. Cada ser, ao sair do estado monocelular, vai crescendo pela lei das Unidades Coletivas (Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese), e vai necessitando de auxiliares para desempenhar suas funções que se multiplicam. Vai então agregando a si outros seres monocelulares, que o acompanharão durante todo o curso evolutivo.
Ao chegar ao estado humano, o número de suas células está mais ou menos fixado, e a criatura se vai elevando na escala servido sempre pelas células servis, como auxiliadoras preciosas de sua evolução. As células são AS MESMAS vida após vida, embora o envoltório físico dessas células varie de vida para vida e até dentro de uma mesma existência da criatura, elas morrem e renascem, isto é, perdem a matéria física e retomam outra. A prova de que a parte espiritual das células é a mesma, e de que só seu corpo se refaz, é que as cicatrizes profundas da infância se mantêm até a velhice, embora a ciência tenha confirmado que, após cada sete anos, todas as células se renovam (menos as nervosas, que pertencem ao corpo etérico e não ao físico). Então, elas se renovam, sim, mas só no corpo físico, que é a contrapartida, a materialização de seu corpo perispiritual ou astral. E as cicatrizes profundas afetam o corpo astral das células, e por isso não desaparecem, pois atingem o vórtice energético. No entanto, as pequenas e leves cicatrizes, que só atingiram o corpo físico das células, essas desaparecem quando as células tomam outro corpo físico.
Ora, essas células, seres espirituais com mente própria (tanto que sabem sua função específica e a executam a rigor) evoluirão também. Enquanto permanecem no corpo humano, possuem a chamada alma grupo, constituída por nosso próprio espírito, e são governadas por nossa mente subconsciente. Tanto assim que se nos desequilibra e aparecem os distúrbios e enfermidades.
Mas, ascendendo lentissimamente pela escala animal, atingirão após milênios de milênios, a escala humana. A esse ponto, a criatura humana que foi servida por essas células (hoje criaturas humanas) já atingiu grau evolutivo elevadíssimo e terá sob sua responsabilidade todo esse conglomerado humano, que constituirá o seu povo.
Aqui temos uma explicação do grande motivo que impeliu Yahweh (Jesus) a criar o planeta (ou todo o sistema planetário), para acolher-nos em nossa evolução: esta humanidade, que aqui vive, é constituída das antigas células que, em épocas imemoriais, formaram os corpos de Jesus durante sua passagem pela escala hominal em outros planetas. Ajudamo-lo em Sua evolução hominal e Ele agora ama-nos entranhadamente, até o sacrifício, e veio entre nós o que era Seu, para ajudar-nos a libertar-nos do jugo da matéria. (Esclareçamos, todavia, que não nos referimos ao corpo de Jesus materializado em sua última passagem pela Terra há dois mil anos. Não. O que dizemos ocorreu há bilhões de anos atrás).

C. Torres Pastorino, Sabedoria do Evangelho, T. I

16 março 2007




Não é difícil adivinhar a marca do meu telemóvel...

13 março 2007

P.1.81-83




A condição de possibilidade de unir as pontas soltas, a união que as ata, aglutina, é dada por Zeus, de acordo com Píndaro. Zeus é simplesmente possibilitante. É-o ao dar-nos a oportunidade, ao criar a ocasião para nos definirmos, ou redefinirmos, ao dar-nos uma hipótese. O momento oportuno aglutina numa dispensa de sentido todas as possibilidades da minha vida, de forma a estabelecer o nexo. O kairós totaliza os fragmentos estilhaçados da nossa vida, dá uma união, dispende sentido, abre caminho por onde ir, anula o carácter avulso de tudo. A obra fundamental do momento oportuno é de compreensão do que está disperso no todo das nossas vidas. Executa-nos. No limite é um mega organizador temporal, labora o tempo e elabora-nos através dele a partir do seu interior. O seu sentido não é causal, é simplesmente compreensivo. Poucos são os que estão à altura deste acontecimento. Os grandes homens são os que compreendem uma possibilidade simplesmente possibilitante. As suas vidas não são apenas momentos de emancipação do passado, da tradição. Todo o movimento de emancipação é definido negativamente, é um livrar-se de qualquer coisa, mas de que nunca verdadeiramente nos soltamos; podemos ficar uma vida inteira a tentar definirmo-nos relativamente àquilo de que nos deixámos, àquilo que deixámos de ser. A emancipação pode não libertar. Assim, as vidas dos grandes homens apenas extrinsecamente, como que por uma descrição e observação do exterior, são cortes com o passado, rupturas e formas de emancipação. Mas é a possibilidade intrínseca da mudança, o libertar-se para qualquer coisa de completamente diferente, um outro ser o que está verdadeiramente em causa nas suas vidas. É por se tornarem num futuro diferente, radicalmente outro, é por essa mudança ser uma possibilidade para a humanidade no seu todo, por haver futuro que a ruptura é feita. Não basta livrarmo-nos de... é necessário libertarmo-nos para.



António de Castro Caeiro, Píndaro - Odes Píticas

02 março 2007

Não espero mais do que aquilo que tenho: espero, sim, não perder o que a tanto custo já consegui. Mas é como se me escorregasse dos dedos... Se calhar não é com estas mãos que se pode segurar...

23 fevereiro 2007

Quilómetro doze

na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje
na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


José Luis Peixoto, Cemitério de Pianos

22 fevereiro 2007

A kid with a candy...

17 fevereiro 2007

Coldplay - Don't Panic




Habituaram-me (Bandeira e Ângela) a associar esta música a tardes de sol, em Pombal, com saudades de estar aqui onde agora estou. Mas agora, que aqui estou, tenho uma sensação de nostalgia desses momentos...

16 fevereiro 2007

Magna Tuna Cartola - Fim

14 fevereiro 2007


Estes 24 anos... têm sido úteis? Têm sido bem aproveitados? Quanto mais cedo começar, melhor.

The Door

18 janeiro 2007

On one hand...





... and on the other:


14 janeiro 2007

The Last Rose of Summer


’TIS the last rose of summer
Left blooming alone;
All her lovely companions
Are faded and gone;
No flower of her kindred,
No rosebud is nigh,
To reflect back her blushes,
To give sigh for sigh.

I’ll not leave thee, thou lone one!
To pine on the stem;
Since the lovely are sleeping,
Go, sleep thou with them.
Thus kindly I scatter
Thy leaves o’er the bed,
Where thy mates of the garden
Lie scentless and dead.

So soon may I follow,
When friendships decay,
And from Love’s shining circle
The gems drop away.
When true hearts lie withered
And fond ones are flown,
Oh! who would inhabit
This bleak world alone?

Thomas Moore

183 - Sunset over Maadi



Do nosso quarto de hotel no Cairo, vens da janela, exibindo vestidas as roupas que compraste no mercado; eu, estendido nas almofadas, contemplo-te. Vens até mim, em gestos de dançarina, agarras-me pela mão: ouço os berloques das pulseiras. Levanto-me para ti, e levas-me até à varanda, onde, de lugar algum, começa a soar esta música...



03 janeiro 2007

Supermoves



Vou no deserto, corro, arrasto-me pela areia, pareço o esplêndido Lázaro, escorrego nas dunas, levanto-me, enterro os pés no chão, as pernas fraquejam mas obrigo-as a correr, a ir rápido, a mover-me rápido, a rasgar o ar que desliza pela minha cara como uma lâmina. Quero fugir de ti, do teu nome, do que és em mim. Imagino-te num lugar distante de onde fujo, e dou balanço para correr ainda mais rápido, levanto-me, e já não sei donde corria, por isso corro a partir de onde estou, para onde estou virado, imagino-te num lugar atrás de mim, fujo de ti, que afinal não és tu, é a minha projecção de ti em mim, a areia que salta das minhas passadas desliza-me como o sol, o ar é tão rarefeito que me sufoca, os olhos mal se abrem. Paro. Tento recuperar o fôlego.

Descansar um pouco
Mas começo de novo a voar
Para junto de ti
Quero-te!, quero estar ao pé de ti, contigo, ser um só contigo! Onde estás? É para aí que vou! Quero-te! Não posso estar sem ti!, corro desabridamente para ti, preciso estar próximo de ti, só contigo estou vivo, é em ti que posso encontrar a cura da seca deste deserto que sou eu, vou até ti, que estarás ao fundo, logo além do horizonte para onde olho, sim, só pode ser ali, é para aí que vou, é para ti que vou, as forças faltam-me mas não paro de correr, o ar foge-me mas não paro, vou a ti, vou a ti, vou a ti!
o deserto nunca mais acaba
é contínuo
sou-o.

02 janeiro 2007

Metáfora de ti...

19 dezembro 2006

Sugestão para o Natal...

14 dezembro 2006

Dos tempos do professorado

Well, Is it true what they say about it
You wanna do what I do and I doubt it
And then they tell you anything about it
Yeah, I know

I got some people say it's this way
I got some people say it's that way
And then some people say there's no way

Hell, I know

[Chorus:]
See that idiot walk
See that idiot talk
See that idiot shock up his name on the backboard
See that robot walk
See that robot talk
See that robot write up his name on the battle
They say this is all I need you to get by
The truth is, baby, it's a lie-ie-ie-ie-ie

Well, Is it true what they say about it
You gotta do what I do and I doubt it
I announce I wanna do something about it
Ain't it fair

I got some people doing it this way
I got some people doing it that way
And then some people
Ain't it fair

[Chorus]

I got a martulation
And through a miracle of bad equation
You gave up and you started thinking
They were true

If you are beauty and combination
Body at work and a mind on vacation
We're on a tray we started thinking
It was you

[Chorus]



The Hives, Walk, Idiot, Walk

12 dezembro 2006

MAR DE ROSAS

Nós sonhamos rosas
Sós na solidão
E vivemos num mar de prosas
Ai, com rosas no coração

Pintando vidas
Construidas talvez em vão
em jardins de rosas perdidas
Ai, no vento duma paixão

E, nos amores
vai-se a razão
Risos e dores
Versos e flores
Quanta ilusão

Nós vivemos num mar de rosas
Ai, com espinhos no coração
Nós vivemos num mar de rosas
Ai, com espinhos no coração

Misteriosas
Estas rosas na minha mão
Mas não há milagres nem rosas
Ai, quando nos dizem que não

Outros caminhos
Com pés no chão
E de novo vamos sozinhos
Ai, ninguém nos pede perdão

Nem os amores
Nem a razão
Risos e dores
Versos e flores
Dura lição

Como se as horas formosas
Pudessem dar rosas
Que os sonhos não dão

Nós vivemos num mar de rosas
Ai, com espinhos no coração
Nós vivemos num mar de rosas
Ai, com espinhos no coração

Carlos Paião

02 dezembro 2006

(...) Sou aquele que, esta noite, te viu partir, que olhou para ti quando os teus olhos se despediram e que não pôde fazer nada senão olhar para ti, o corpo que foi meu, e vê-lo afastar-se, cada vez mais longe dos meus braços. Sou aquele que nasceu lá no sul, longe de toda as desilusões, no lugar onde o passado pára, no último lugar do passado. Sou aquele que sonhou com tudo aquilo que é proibido sonhar. Sou aquele que é todos estes e muito mais do que estes e que caminha por um passeio deserto, o nevoeiro, o brilho morrente da luz na água fina da chuva, sob um céu cinzento, sob a lua como um ponto para onde tudo se dirige. Caminho nesta manhã como se entrasse dentro de uma casa vazia, a casa que conheci, que foi minha e que abandonei, como se subisse as escadas dessa casa de salas mortas, cadeiras mortas, camas mortas, como se me aproximasse da janela e olhasse lá para fora, como se uma voz negra e terrível me atravessasse.
A manhã é ainda lunar.
Nunca mais poderei deixar o meu corpo esquecido junto ao teu. O mundo que não existia longe da tua pele. Os meus dedos a deslizarem pela superfície da tua pele. E o desejo enganava-nos. Os meus dedos entre os teus cabelos e a inocência. A claridade dos dias que nasciam na tua pele branca, na forma suave da tua pele feita de silêncio. A inocência repetida em cada palavra da tua voz, como água de uma fonte, como a minha mão a atravessar o ar e a dirigir-se para o teu rosto. O teu olhar era a inocência. O meu olhar. E o silêncio de cada vez que queríamos falar de assuntos mais impossíveis do que a memória. Nunca mais poderei sonhar porque tu não estarás ao meu lado e, descobri hoje, só posso sonhar contigo ao meu lado. Espetada infinitamente em mim, uma faca infinita. Deixei de imaginar o futuro. Sobre esse tempo que não sei se chegará existe um manto muito mais negro do que aquele que cobre o passado. Não consigo olhar através desse tempo negro. O futuro estará depois de muitas noites, mas eu deixei de imaginar as noites. Sei que, da mesma maneira que esta noite se cobriu de manhã, esta manhã poderá anoitecer. Consigo imaginar cada tom das suas cores a tornarem-se negras. Não consigo imaginar este tempo a transformar-se noutro tempo. Contigo, perdi tudo o que fui para não ser mais nada. Deixei-me ficar nos sonhos que tivemos. Abandonei-me. Nunca mais entenderemos a lua como quando acreditávamos que aquela luz que atravessava a noite nos aquecia. Nunca mais. Nunca mais poderemos sonhar. Nunca mais. (...)

José Luis Peixoto, Lunar

28 novembro 2006

Massive Attack - Angel






You are my angel
Come from way above
To bring me love

Her eyes
She's on the dark side
Neutralize
Every man in sight

To love you, love you, love you ...

You are my angel
Come from way above

To love you, love you, love you ...

26 novembro 2006

AVDITE, ET SCIERIS

Santana - She's Not There




(...) Please don't bother tryin' to find her
She's not there

Well let me tell you 'bout the way she looked
The way she'd act and the colour of her hair
Her voice was soft and cool
Her eyes were clear and bright
But she's not there(...)

The original by Zombie

24 novembro 2006

O Fruto da Democracia

O Mito do Minotauro



---E que nome davam ao rabujador?---

Air - Playground Love



---Anytime, anywhere, you're my Playground Love---

23 novembro 2006

Laidback, Happy Dreamer




--- I believe that Love can change the World ---

18 novembro 2006

Panquecas

16 novembro 2006

Manu Chao - Me Gustas Tu



Que voy hacer, je suis perdu

03 novembro 2006

Presidente da Junta

01 novembro 2006

Biological

Thousands of hairs
Two eyes only
It's you

Some skin
Billions of genes
Again it's you

XX XY
That's why it's you and me

Your blood is red
It's beautiful genetic love

Biological
I don't know why I feel that way with you
Biological
I need your DNA

Your fingerprints
The flesh, her arm, your bones
I'd like to know
Why all these things move me

Let's use ourselves to be as one tonight
A part of me would like to travel in your veins

Biological
I don't know why I feel that way with you
Biological
I need your DNA

Air, Talkie Walkie

30 outubro 2006

Ora aspiro, ora temo, ou duvido;
Ora grave, ora meigo, ora severo;
Ora engeito, ora peço, ora não quero;
Ora páro, ora tenho, e ora envido:

Ora inculto, ora monstro, ora Cupido;
Ora prompto, ora tímido, ora féro;
Ora livre, ora escravo, e ora impéro;
Ora amante, ora ingrato, ora sentido;

Ora morro, ora vivo, ora me afogo,
Ora rio, ora choro, ora me assanho;
Ora já, ora não, e ora logo.

Ora envido, ora perco, e ora ganho;
Ora incendio, ora neve, e ora fogo;
Estranho variar de amor estranho!


Esopaida, ou Vida de Esopo

26 outubro 2006

Apocalyptica - Inquisition Simphony



asasas

PRIMA INTER PARES

asasas

Set me free

asasas
Set me free, little girl.
All you gotta do is set me free, little girl.
You know you can do it if you try,
All you gotta do is set me free, free,
Free.

Set me free, little girl.
All you gotta do is set me free, little girl.
You know you can do it if you try,
All you gotta do is set me free, free,
Free, free.

I don't want no one,
If I can't have you to myself.
I don't need nobody else.
So if I can't have you to myself,

Set me free.
Set me free.

Oh set me free, little girl.
All you gotta do is set me free, little girl.
You know you can do it if you try,
All you gotta do is set me free, free,
Free, free.

I don't want no one,
If I can't have you to myself.
I don't need nobody else.
So if I can't have you to myself,

Set me free.
Set me free.

Oh set me free, little girl.
All you gotta do is set me free, little girl.
You know you can do it if you try,
All you gotta do is set me free, free,
Free.

Set me free,
Oh, set me free.

Ray Davies & The Kinks

21 outubro 2006

Balade de mercy

asasasas

A Chartreux et a Celestins,
A Mendians et a Devottes,
A musars et claquepatins,
A servans et filles mignottes,
Portans surcortz es justes cottes,
A cuidereaux d'amours transis,
Je crie a toutes gens mercis.

A fillettes monstrans tetins,
Pour avoir plus largement hostes,
A ribleurs mouveurs de hutins,
A bateleurs traynans marmottes
A folz er folles, sotz et sottes,
Qui s'en vont siflant six a six,
A marmosetz et mariottes,
Je crie a toutes gens mercis.

Si non aux traistres chiens mastins
Qui m'ont fait rongier dures crostes
Et maschier, mains soirs et matins,
Qu'ores ja ne crains pas trois crottes.
Je feisse pour eulx petz et rottes;
Je ne puis, car je suis assis.
Au fort, pour eviter riottes,
Je crie a toutes gens mercis.

Qu'on leur froisse les quinze costes
De gros mailletz, fors et massis,
De plombees et telz pelottes.
Je crie a toutes gens mercis.

Francois Villon

04 outubro 2006

Taking A Pause



First two tracks of the album Chill in India. They have been, in the last few days, my only way to relax, and to think of you calmly

21 setembro 2006



(...) tu semper eris nostrae gratissima uitae,
                Taedia dum miserae sint tibi luxuriae.

Propércio, Eleg. 2
 

... porque é incontestável...




1º Os fenómenos espíritas são produzidos por inteligências extracorpóreas, às quais também se dá o nome de Espíritos;
2º Os Espíritos constituem o mundo invisível; estão em toda parte; povoam infinitamente os espaços; temos muitos, de contínuo, em torno de nós, com os quais nos achamos em contacto;
3º Os Espíritos reagem incessantemente sobre o mundo físico e sobre o mundo moral e são uma das potências da Natureza;
4º Os Espíritos não são seres à parte, dentro da criação, mas as almas dos que hão vivido na Terra, ou em outros mundos, e que despiram o invólucro corpóreo; donde se segue que as almas dos homens são Espíritos encarnados e que nós, morrendo, nos tornamos Espíritos;
5º Há Espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância;
6º Todos estão submetidos à lei do progresso e podem todos chegar à perfeição; mas, como têm livre-arbítrio, lá chegam em tempo mais ou menos longo, conforme seus esforços e vontade;
7º São felizes ou infelizes, de acordo com o bem ou o mal que praticaram durante a vida e com o grau de adiantamento que alcançaram. A felicidade perfeita e sem mescla é partilha unicamente dos Espíritos que atingiram o grau supremo da perfeição;
8º Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens; indefinido é o número dos que podem comunicar-se;
9º Os Espíritos comunicam-se por médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes;
10º Reconhecem-se a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos pela linguagem de que usam; os bons só aconselham o bem e só dizem coisas proveitosas; tudo neles lhes atesta a elevação; os maus enganam e todas as suas palavras trazem o cunho da imperfeição e da ignorância.

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns

11 setembro 2006

07 setembro 2006



Na criação do mundo, no núcleo deste planeta, a Entidade Criadora gravou uma imagem; o ser com responsabilidade moral para gerir a vida neste planeta seria feito a partir dessa imagem. Tu, porém, não foste feita com base nesse molde: tu és esse molde impregnado de vida. És um talismã para a Humanidade.

04 setembro 2006


 

03 setembro 2006

(...) Monotonizar a existência, para que ela não seja monótona. Tornar anódino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inútil, surgem-me visões de fuga, vestígios sonhados de ilhas longínquas, festas em áleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu. Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu. Mais vale, na verdade, o patrão Vasques que os Reis de Sonho; mais vale, na verdade, o escritório da Rua dos Douradores do que as grandes áleas dos parques impossíveis. Tendo o patrão Vasques, posso gozar o sonho dos Reis de Sonho; tendo o escritório da Rua dos Douradores, posso gozar a visão interior das paisagens que não existem. Mas se tivesse os Reis de Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossíveis, que me restaria de impossível? (...)

Bernardo Soares, Livro do Desassossego (trecho 171)




 

21 agosto 2006

---MUDANÇA DEFINITIVA NO MEU SISTEMA DE VALORES---

16 agosto 2006

Nietzsche


O verdadeiro, o único, na sua derradeira máscara...

15 agosto 2006



Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado

Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira no peito um grito,
à desfilada

Canta rouxinol canta
não me dês penas,
cresce girassol cresce
entre açucenas

Afaga-me o corpo todo
se te pertenço,
rasga-me o ventre ardendo
em fumos de incenso

Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado

Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira no peito um grito,
à desfilada

Ai como eu te quero,
ai de madrugada,
ai alma da terra,
ai linda, assim deitada

Ai como eu te amo,
ai tão sossegada,
ai beijo-te o corpo,
ai seara, tão desejada.



Fausto, Por Este Rio Acima (1982)

08 agosto 2006

Kadoc - Nighttrain


A minha avó... de fato de treino
Heroes del Silencio - Entre dos tierras

05 agosto 2006

Rammstein - Rosenrot



Grande vídeo... Perfeito.

---WAS SIE WILL BEKOMMT SIE AUCH---

Vaya Con Dios - Nah neh nah

The White Stripes - Fell In Love With A Girl



---SHE'S IN LOVE WITH THE WORLD---

04 agosto 2006

Jacques Brel, Ne me quitte pas

Assim, completamente desgraçado, de rastos, pressentindo a miséria do que poderá um dia acontecer, assim te digo:


03 agosto 2006

I do not swear I will remember you;
I have sworn that before - and have forgot,
and vowed eternities too many times
to tarnish this with phrases I hold cheap.
I will not even say you are my love;
the word is trite, beribboned, tired with use,
and has grown sickly with the world's abuse.

I say that you are young, when all around
the years are weary, hearts destroy themselves,
and the bright morning of an April day
scarcely moves the dark; and you are clean
when dust of ages blows about the fields
and the new corn is stifled at its birth.
I say that I would choose, if choice were mine,
with all the honesty my heart can give,
to be your fellow out across the hills.

I do not swear I will remember you.
The lines we follow may diverge today
to meet each separate end. But I can say
when I am old, that once the world was true
and I was fearless and was not alone,
and broke the barriers of blood and bone
into the regions of a brighter star;
and when I smell the fragrant dusk of spring
I will be still with joy, remembering
these days no threat, no falsity can mar.



Jane Tyson Clement, No One Can Stem the Tide: Selected Poetry 1931-1991

30 julho 2006

Portishead - All Mine




WE SHALL EXIST UNTIL THE DAY I DIE


Há coisas inexplicáveis... tais como gostar de ti, ao mesmo tempo que gosto desta música... Bizarro! Mas que importa... tanto tu como a música me fazem feliz.

Bob Marley - Waiting in vain

27 julho 2006

Sepultura - Territory





Unknown Man
Speaks To The World
Sucking Your Trust
A Trap In Every Word

War For Territory
War For Territory

Choice Control
Behind Propaganda
Poor Information
To Manage Your Anger

War For Territory
War For Territory

Dictators’ Speech
Blasting Off Your Life
Rule To Kill The Urge
Dumb Assholes’ Speech

Years Of Fighting
Teaching My Son
To Believe In That Man
Racist Human Being
Racist Ground Will Live
Shame And Regret
Of The Pride
You’ve Once Possessed

War For Territory
War For Territory
Estar a comer uma fatia de bolo de chocolate acabado de sair do forno, sentado num divã perfeito para as medidas do meu corpo, escutando Verdi e inalando opiáceos de incenso, num fim de dia quente de Verão. Haverá algo mais tranquilizante, mais remediador para o espírito? Sim; haverá sempre algo melhor, qualquer que seja a situação que se lhe oponha: estar contigo, nem que me estejas a fazer mal.


Pela manhã cedo, o pequeno Buda saía do seu palácio e entrava floresta adentro. Havia aí um lugar quase inacessível onde ele gostava de se sentar, ser rodeado por todas as formas de vida da Natureza, e rir. Esses momentos do dia eram sempre amenos; qualquer que fosse a época do ano, havia sol, e céu azul. A Natureza amava o rapazinho gordo de olhos semicerrados que a fazia feliz. Às vezes, o pequeno Buda recebia uma visita da cidade, para aconselhamento, mas só se encontrava com ele quem conseguisse chegar àquele lugar. As suas lições de vida eram muito apreciadas, não tanto pela vaguidade de um conselho oracular, mas pela simplicidade, carregada de profundos conhecimentos de vida, de que essas pequenas frases se compunham. Ninguém amava eroticamente o ser mais amado da Natureza, e, um dia, um viajante alemão, de olhos esbugalhados, por trás das lunetas curvas e pequenas, que ao fim de dois meses conseguira encontrar aquele ser que, fisicamente, classificou de "anão com peso regular"; esse viajante alemão perguntou ao pequeno Buda porque é que ninguém de entre os Homens o amava. O pequeno Buda, com poucas palavras, explicou àquele senhor de hábitos estranhos e sotaque acentuado que a Mãe Natureza amava Buda pela mesma razão que o fazia não ser amado por ninguém. A Mãe amava Buda porque ele era o oposto de toda a beleza que os homens admiram. Buda era a beleza primordial, a beleza quase selvagem, quase Terra. E a Mãe alimentava-se da Terra. Como o pequeno Buda era quase tão filho da Terra como da Mãe, a Mãe alimentava-se da Terra que Buda era e tinha. Porque Buda não era humano; humano era o corpo em que a Mãe o engarrafara. Duas horas depois, o alemão era ainda um vazio pleno de incertezas.

26 julho 2006

The Doors - Touch Me




TILL THE STARS FALL FROM THE SKY
Mão Morta - Escravos do Desejo



---DÓI-ME A ALMA---

Moonspell - Magdalene



Have you ever loved a woman
who should be that little intruder
in the one that you should be

Share the snake with us,
swallow the snake for us...

You have learnt heaven through impure lips
so different from what you have been told
so different from what you have seen

And now that you learned you will have to release
the tender arms of a woman
which would have strangled you to let you live
you will have to elect (choose) the fainting arms of this cross
which are just killing you to let you live...

Share the snake with us,
follow the snake for us...

25 julho 2006

The Rolling Stones - Paint It Black

Rammstein - Stripped

Rammstein - Sonne



The Snow White... Is You

Longe de tudo; sozinho, por minha conta, responsável pelos meus actos. Sem alguém que me vista com seus gestos, como tinha Sophia. Estou neste momento nesse mundo árido de um tempo real, esse mundo em que Vergílio Ferreira sentiria uma abafação de todo o espaço, uma pressão que lhe fazia carregar a cabeça de sangue. Esse mundo em que um aristocrata de Eça tomaria constantemente as decisões erradas, sempre esperando pela sua riqueza para o segurar, sempre mantendo a sua pose. Aqui, Campos estaria eufórico, absorvendo a multiplicidade de imagens que a Boavista, pela manhã, pode dar - ou estaria ansiando por um qualquer navio onde, encostado para trás na cadeira do convés, pudesse partir para o sossego. Reis estaria a ir-se embora também, em direcção ao campo, onde está Caeiro. O Ortónimo deprimiria entre tragos de vinho e sorvadas de ópio. Antero, perante a mendigagem que, pelos chãos, faz o triste espectáculo de serem como são e, sem qualquer estima para si próprios, no fim pedem o óbulo do espectáculo; Antero, ao vê-los, suspiraria por um Socialismo que, já o sabemos agora, nunca existirá. Quanto a mim, que não posso estar junto de todos eles, visto a roupa de estar nesta sociedade, escondendo dentro de mim o selvagem que quer um dia estar sozinho: fiz a minha escolha, Aristóteles, não sou deus, sou animal.

24 julho 2006

FIM
quando voltaste, os teus olhos e as tuas mãos eram
chamas a falarem para mim.
eu estava na cama onde nasci vezes demais.
peço-te, nunca esqueças o meu olhar de quando
voltaste.
era de noite. eu não esperava mais nada.
e tu voltaste. tão bonita.
és tão bonita. no mundo, deve haver um jardim tão
bonito como tu.
voltaste.
eu sorri tanto. fui feliz e, nesse momento, morri.
José Luís Peixoto, A Casa, a Escuridão (2002)

23 julho 2006

EX IMIS TEMPORIBVS

05 julho 2006

NIETZSCHE:
Oh no—
Let’s face it. Nobody likes being chained
to the wall by somebody else’s imagination.
Please! Wipe me out!

THE DANGEROUS MAN:
I’d do it if I could, Mr. Nietzsche.

NIETZSCHE:
You can do it. I want things said to me—
that will be very disturbing —not to other
people of course, but to myself in particular.
I want things said to me, that will cut into
me like a knife. In that hope, I want everybody’s
collaboration.

THE CHILD:
Why should we collaborate with you, Mr.
Nietzsche? A: We do not trust you, and B:
we do not like you.

Richard Foreman, Bad Boy Nietzsche

15 junho 2006

JORNADA - 4

Vasco da Gama; correnteza de cadeiras no andar da restauração, cá fora, a ver o rio. O melhor sítio do Vasco para um dia quente de sol. Mas nem a cúpula da Utopia me distrai de ti. Queria-te aqui, a ver isto comigo. Não teria necessidade de escrever-te, porque estavas a viver tudo isto comigo. Vou aqui ficar um pouco mais, a lembrar-me dos momentos até agora em comum contigo, vou ver a tua imagem, e vou juntar-te a mim - desejando que aconteça fora da imaginação.

14 junho 2006

JORNADA - 3

Saindo pela porta giratória do CCB, no Centro de Exposições, o cantinho mais à esquerda, resguardado por uma pequena selva cor-de-rosa. Já almocei, no McDonald's de Belém, depois comprei uma embalagem de seis pastéis, comi dois, e um farto pedaço de salame de chocolate. Nem assim, tal não chegará nunca, como nada chegará, para que te esqueça. A todo o momento dou por mim a correr para a tua imagem que trago comigo. Encher-te de mimos; dar-te o que sinto por ti. E, juntos, olharmos a parte da Margem Sul e do Tejo que se pode avistar daqui; enquanto olhavas, ia enchendo esse terno pescoço de repenicados beijos. Tudo seria tão melhor, se estivesses aqui!

13 junho 2006

JORNADA - 2

Anfiteatro dos Jardins Gulbenkian. Lugar mágico. Até parece que não há aqui ninguém, até parece que não passam aviões por cima a toda a hora, como se os pássaros, as folhas ao vento, a sombra das árvores, todo este bucolismo abafasse a vida que há à volta. Era capaz de viver aqui para sempre. Aqui, na segunda fila a contar da direita (vindo do acesso mais à esquerda - de quem vê por cima), quarto lugar; e, no terceiro ou no quinto (ou mesmo no quarto), tu. A olharmo-nos, a olharmos a letícia nos olhos das criancinhas que na skene brincam, a olharmos o canto do lago, ao fundo esquerdo, e a perdermo-nos depois um no outro. Dia mágico, que para ser real bastavas tu.

10 junho 2006

JORNADA - 1

São oito e cinquenta e oito. Ainda penso em ti. Falta uma hora para que o comboio chegue, e não me sais da cabeça. Lá, para onde vou, também lá estarás, tal como estás aqui? Eu sei que sim, inevitavelmente, porque não penso em mais nada senão em ti. Tua levo uma imagem, na qual sorris de uma forma indescritível; talvez a única coisa a dizer é que é um sorriso teu, e isso dá logo a ideia da unicidade do esplendor daquela imagem, que terceiros fizeram. Vou olhá-la atentamente, não para não te esquecer mas para me alimentar. Tu bastas-me, e eu quero bastar-te.

03 junho 2006

Espelho meu, haverá alguém mais bela que ela? Pois sim, seu campónio depravado, há; mais bela que ela só ela sem ti, só aquela "ela" que não conheces, porque é a que não te conhece. Ouvindo isto, não tive outro desejo senão fazê-la ainda mais bonita; além de não me conhecer, nunca se cruzaria comigo. Decidi com toda a minha resignação. Mas quem sou eu para decidir ou, sequer, resignar?Eu sou daqueles que, fruto da noite, se embebedam do mal alheio e o tornam seu. Se calhar por isso os deuses, aproveitando para me contrariarem, me aproximaram dela. Sou uma sanguessuga dos podres que grassam nos seres que procuram aproximar-se da perfeição da felicidade. Eles têm esse objectivo; eu sou algo que não pode sequer pensar em objectivos: minha única função é sacrificar-me para e por eles; por todos eles; mas fui destacado para ela.

07 abril 2006

A viagem foi muito cansativa. O ar frio e húmido inutiliza os panos encardidos e sujos em forma de roupa que me cobrem. É noite. No meio das casas escuras e precárias, uma que emana luz; uma taberna. É disto que preciso; um bom vinho, uma mulher fácil de formas cheias, uma cama para passar o resto da noite. Cá fora, uns porcos vão tratando da imundície que atola o chão enlameado. Antes de entrar, ajeito o alforge onde levo a razão da minha presença aqui: um documento de vital importância que o Rei, refugiado num pequeno bosque rodeado de inimigos, envia ao seu cunhado, rei desta terra, e seu único aliado. Que acontecerá se o papel se perder? Muitas vidas, e se calhar entre elas todas onde corre o mesmo sangue que em mim, cessariam em menos de um mês. Se entrar nesta taberna, deitarei por terra o futuro da insígnia que, à nascença, tatuaram-me no peito? O vinho, terá veneno? A mulher, uma espiã? A cama, meu último e eterno repouso? O meu corpo está mais fatigado que o do atleta-hoplita próximo de Atenas, falta-me ainda um par de dias de viagem - mas não posso parar. Não vou parar. A vida do Rei acima das hesitações do meu corpo.

04 dezembro 2005

Não sabes? Não sabes mesmo? Então eu lembro-te: dói-te a cabeça porque foste lá. tantas vezes eu te disse: não vás!, não vás!, não virás bem de lá! acabaste por ir, e eis o estado desumano em que surges. Ah, pois é, sim, mas mais desumano do que costumas ser. É bem feito! Aquilo não é lugar para ti. Por acaso viste as flores? Sim, lindas, não eram? Ah foste cheirá-las! Já sabes então donde vem essa dor de cabeça que é maior que a tua área cranióide. O pólen dessas plantas, ó grande imbecil, é só para quem nasce apto a captá-lo para o consumir; para quem, em contacto com essas lindas florzinhas, se torna um-só com elas, e o pólen, droga de vida, flui entre um e outro em júbilo. Vá, encosta-te aí, no teu canto, e deixa para os outros o que não é para ti.

27 novembro 2005

A luz fraca vai chovendo pelo móveis abaixo; na caixinha cinzenta, um parvo qualquer entretém as massas; no sofá, jaz o teu corpo mole. Os teus olhos vão-se fechando às vezes, como se quisessem evitar ter de ver a miséria em que te tornaste; consegues ainda ver a tua mão amortecida sobre o braço do móvel que te sustém, e lembras-te dela a agarrar os carros, as canetas, uns seios. Um mundo de ouro que, contra a previsão, oxidou. Finalmente os olhos fecham-se, e a pouco o som que vai irritando o ar também vai ficando mais longe, cada vez mais longe, até que de repente um ruído surdo te entope os ouvidos. É ELA que entra, atravessando, como um navio num mar tempestuoso, as vagas de ar que te sufocam.

28 abril 2005

Querias estar vivo quando esse ano ocorrer? então não podias estar vivo agora. não a conhecias. não serias escamoteado por aqueles em específico. outros talvez to fizessem, mas o que importa é que se vivesses nesse ano não serias tu; só tendo nascido quando nasceste, onde nasceste e donde nasceste é que pudeste ficar assim. não queiras o que não se relaciona contigo. lembra-te: ela, sempre ela! ela é já razão suficiente para estares aqui agora, a consumir estas matérias, estes produtos. este arroz que comes: é teu, só teu, só de agora, só dura enquanto o levas até ti. ninguém mais o vê, só tu. tu! como se tu pudesses ver mais alguma coisa além dela! por muito que o negues, por muito que o não mostres, por muito que ela te queira, te mostre que te quer sem lho responderes. porque o fazes? porque és assim, hás-de ser sempre assim: nasceste assim. morrerás assim. até lá, ama-a, ainda que nunca se materialize o que se insinua entre vocês. ama-a da forma como concebes o Amor, a Relação, todo o propósito de ambos existirem. continua a amá-la, e quando estiveres numa fase em que descais para quem está mais perto de ti, em mais fácil acesso, algo há-de ocorrer que vos volte a chocar. como o que acaba de acontecer.amanhã já não te lembras, mas hoje não te sai da cabeça. ama-a. ainda que venhas a acabar tal qual como estás.QED

10 abril 2005

A vida na selva é regida por uma lei: a anarquia. Quem pode, salva-se, isto é, apodera-se dos lugares mais respeitosos - mas não é por ocupá-los que de imediato ficam isentos de riscos: é precisamente por os ocuparem que correm mais riscos, porque todos os outros ambicionam estar onde estão. Nesta selva, eu estou, entre muitos, no lamaçal. Mas eu sei que estou no lamaçal, enquanto outros, que aqui estão comigo, julgam estar lá em cima, nos galhos últimos das árvores, onde nem as cobras vão e donde se diz que se vê toda a selva. Vivem, pois, nessa ilusão, mas só a aplicam a eles, porque quando olham para nós, os que não têm essa ilusão, e portanto não concordam com eles, acham que nós é que somos quem está no pior lugar. Não aceitam quaisquer confrontações, a sua ilusão consome-os e não desaparece. Eu sei que estou no lamaçal porque, apesar de não ter nada, não me dão nada, nem tenho hipóteses de um dia vir a mudar para um sítio mais seco. Sei que é esta a minha condição, e embora Séneca e Nietzsche se degladiem sobre se é bom ou mau, respectivamente, estou aqui, eu, que sei que nenhum deles aqui esteve, aceito o lugar, não só porque é aquele onde à partida surgi e donde nunca saí, mas também porque quero evitar as longas e dolorosas quedas daqueles que cá vêm parar vindos de lá de cima.